sábado, 27 de março de 2010

Caso Isabella Nardoni :Entrevista de Guilherme Fiúza

     Olá companheiros,



     Ainda na repercussão do Caso Isabella Nardoni, recebi  a indicação no final do ano passado do amigo Tarini, um site onde o Jornalista Guilherme Fiúza concede uma entrevista a Band News.

     Nessa entrevista ele fala de um fato que aconteceu justamente com ele, a morte de seu filho a 18 anos atrás.

     Essa é uma das entrevistas mais emocionantes que já ouvi, concordo com todas as palavras que ele mencionou, sobre o papel da Mídia e a opinião Pública.

     Quero apartir desta entrevista começar a desenvolver minha visão do caso Isabela Nardoni, que teve fim na madrugada deste dia 27 de março de 2010.

ouça aqui a entrevista.



     Relato da entrevista:



     Há dezoito anos, em seu apartamento, tropeçaram próximo da janela. Seu filho, de apenas um mês, estava nos braços e, com o tropeço, caiu do oitavo andar. Foi um acidente. Em menos de uma hora, dois guardas armados da polícia militar já estavam no local, impedindo a saída dele e de sua então mulher. Eram suspeitos “daquela tragédia que, por si só, era suficiente para” os “aniquilar”. Os vizinhos, “afoitos ou talvez interessados em fazer o bem, mas com certo açodamento”, passaram diversas informações equivocadas sobre brigas que teriam acontecido no apartamento. Um advogado foi chamado para ver como eles poderiam provar que eram inocentes diante da acusação. Um batalhão de jornalistas já estava na porta do prédio aguardando a saída do casal, que, depois, conseguiu esclarecer tudo e provar sua inocência.

     Naquela dura situação, após perderem o filho de um mês, eles tiveram que lidar com a “tragédia sobre a tragédia”. Eles não eram culpados, mas pareciam ser, o que foi suficiente para haver um julgamento precoce pela opinião pública – e, ainda antes dela, pela imprensa.


     Guilherme contou isso em seu blog e também ao jornalista Marcelo Parada, na rádio BandNews FM. Só trouxe sua experiência à tona por acreditar ser importante a opinião pública tomar conhecimento dela nesse momento em que algo tão parecido acontece no tratamento do caso Isabella. Transcrevi boa parte do depoimento, que é de extrema importância para todos que se envolvem com o jornalismo, seja produzindo ou consumindo notícias. Aqui está:


     Quando aconteceu o caso com a Isabella, sem eu ter a menor idéia se havia ou não culpa do pai e da madrasta, fiquei mais uma vez chocado e impressionado com a pressa com que se criam versões sobre o que aconteceu de uma maneira absolutamente irresponsável e desumana, porque não se sabe as circunstâncias daquela família assim como não sabiam as minhas circunstâncias. (…) Eu não quero comparar a minha situação com a de ninguém. Só quero dizer que essa situação inicial em que há uma completa ignorância da opinião pública sobre a vida daquela família e as particularidades daquelas pessoas, existe um comportamento completamente irresponsável, inteiramente desumano, quando você conecta eventualmente um vizinho afoito com um delegado falastrão (…).


     Nesse caso por exemplo, eu ouvi no rádio no dia seguinte já o delegado falando, como se falasse do Big Brother, do Rafinha ou da Gyselle, dizendo que achava que aquele pai estava metido em circunstâncias muito estranhas. Esse delegado é um irresponsável, ele não tem direito de fazer isso. Ele não tinha dados, ele não tinha informações, ele abusou da sua autoridade. No momento seguinte, eu assisti na televisão à mãe da menina chegando à Polícia pra prestar depoimento e sendo quase jogada no chão pelos jornalistas que queriam arrancar dela uma informação. Isso é fim da picada, é o fim do mundo, isso é pior do que o mensalão, é pior do que corrupção, é pior do que Renan Calheiros.


     As pessoas têm que prestar atenção e entender que tem gente de verdade ali naquela situação e que, depois, passado algum tempo, depois que a opinião pública, aparentemente tão preocupada em fazer justiça, cansar desse assunto, ela passa para outro assunto, mas aquela família vai ficar lá, com aquela tragédia, com aquele flagelo, numa solidão absoluta. Então é o momento de reflexão: eu sou jornalista, defendo a liberdade de imprensa, pratico a liberdade de opinião, acho um bem valioso e essencial, mas acho que uma sociedade que se quer civilizada precisa prestar mais atenção no seu comportamento.


     A grande semelhança entre o caso Isabella e o meu é a covardia da opinião pública. A opinião pública é covarde. Ela não tem rosto, não sente dor. (…) Você está numa situação limite, não sabe nem se conseguirá prosseguir na vida, e está sendo massacrando por um julgamento precoce. Aí eu pergunto: (…) quem é que vai pagar esse dano moral e emocional quando o assunto sair de pauta, quando a pauta for as Olimpíadas? Porque a opinião pública é assim, né, hoje é a Isabella e amanhã é o Tibet e vamos em frente, como se fosse um grande mosaico, uma grande feira de notícias. E não é assim, existe vida real ali.


     (…) E não estou falando sobre culpa ou não culpa. Eu não sei, não sei. Mas a maior certeza que tenho é de que eu não sei o que aconteceu, e as pessoas deveriam ter essa humildade. A revista Época (…) teve um comportamento interessante em sua reportagem de capa, que foi procurar levantar informações sobre a família.


     Eu acho que busca da verdade e da informação é sagrada, tem que continuar a acontecer, mas de forma responsável. (…) Então, ao investigar quem eram essas pessoas, seus hábitos, como viviam e etc, você está dando vazão à curiosidade da opinião pública, à parte sadia da curiosidade, à busca por justiça e etc. Você está ajudando a esclarecer, tentando mostrar quem são as pessoas, mas não está apontando o dedo para ninguém. (…)


     Estava outro dia conversando com uma repórter da Folha e ela perguntou qual seria a saída, se um código de imprensa… Um código, nada! Isso é berço, isso é um valor que você, como repórter, e eu, como repórter, devemos ter. Você tem que se sentir muito mal se você quase joga no chão uma mãe que acaba de perder uma filha. Isso é um sentimento de cada um, não é código de imprensa, não é nada. Isso é civilização, do contrário a gente chama o Elias Maluco para ser nosso primeiro ministro e julgar as pessoas como ele julgou o Tim Lopes. Pega e joga no microondas. Pra que processo? Pra que essa burocracia chata? A gente acha que é culpado e joga no microondas, queima vivo.


     Isso é muito perigoso, as pessoas realmente precisam parar um pouco para pensar sobre seus valores, suas convicções pessoais. Não adianta código de imprensa, não adianta o chefe de reportagem mandar tomar cuidado, não é nada disso. Isso é de cada um.



     Para quem não conheçe o Jornalista Guilherme Fiúza, segue o blog: http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza

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